segunda-feira, 2 de julho de 2012

A música de todos os dias

Jorge Adelar Finatto

photo: Edu da Gaita, 1959

Escrevi sobre o toca-discos que comprei para escutar meus velhos discos de vinil.* Agora estou na fase de limpar, organizar e, claro, ouvi-los. São todos elepês (long-play, disco grande), como se dizia, em oposição aos compactos. A experiência é uma feliz redescoberta.

Reencontro gravações primorosas. O som do vinil é o som original da gravação, com as nuances todas, os detalhes, a limpidez que não há no cd. Parece que existe mais transparência, como se estivéssemos na sala diante dos músicos. O som do cd soa mais abafado.

Talvez isso não passe de impressão, não sou expert no assunto. Mas como disse aquele velho filósofo grego, numa tarde de calor, sentado debaixo de uma oliveira, enquanto olhava o mar e os barcos, na beira do Mediterrâneo: o que é de gosto regala a vida. Acho mesmo um milagre que a simples passagem de uma agulha pelos microssulcos do vinil produza a maravilha.

Entre os discos que já organizei, estão Please, please me, Beatles, 1963; Minas, Milton Nascimento, 1975; Meus caros amigos, Chico Buarque, 1976; Feito em casa, Antonio Adolfo, 1977; Amoroso, João Gilberto, 1977; Sol do meio-dia, Egberto Gismonti, 1978; Edu da Gaita, Edu da Gaita, 1979; Roberto Sion, Roberto Sion, 1981; A música livre de Hermeto Paschoal, Hermeto Paschoal, 1985; Balãozinho, Eduardo Gudin, 1986; Canta, canta, minha gente, Martinho de Vila, 1988; Three windows, The modern Jazz Quartet, 1988; La grande réunion, Stephane Grappelli e Baden Powell, 1989; Grandes compositores, Dorival Caymmi, 1990; Cartola ao vivo, Cartola, 1991(gravação de 1978).

A arte das capas é, em geral, feita com capricho, havendo esmero na concepção e montagem de textos e imagens.

No disco do gaúcho Edu da Gaita (Eduardo Nadruz, 1916 - 1982), por exemplo, está reproduzida a página de sua carteira de trabalho onde, no campo profissão, foi registrado: músico excêntrico. O ilustre funcionário público escorregou no adjetivo. Desconhecia, talvez, que se tratava de um dos mais importantes e respeitados artistas brasileiros, senhor de uma carreira brilhante com seu instrumento, a harmônica de boca.

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*Uma viagem sentimental
 http://ofazedordeauroras.blogspot.com.br/2012/06/uma-viagem-sentimental.html

Foto de Edu da Gaita: site oficial do artista:
http://www.edudagaita.com.br/

3 comentários:

  1. Adelar, tenho um ex-colega que tb. redescobriu a excelência do vinil. Anda vertendo seus velhos LPs para CD, mas destaca a qualidade do som filtrado pelas ranhuras do velho acetato.
    Quem sabe em breve poderei me dar este prazer. Meus cerca de 300 LPs esperam empoeirados, o magic moment de voltarem a existir. Vou entrar no teu embalo e postar, la no blog, um poema que me veio, tempos atrás quando meu toca-discos ainda funcionava...

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Ricardo,
    encontrei um toca-discos simples e bem em conta e agora vou ouvindo. Não abandonei o cd, o vinil é uma outra maneira, um luxo, digamos assim. A gente precisa criar um ambiente, um tempo para ouvi-lo, já que não dá pra levar no carro nem nas caminhadas...

    Um abraço.

    JF

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  3. O Edu da Gaita tinha sobrenome Nadruz. Conheci um pianista e, depois, maestro chamado Marcelo Nadruz. Será filho dele?

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